segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

CRAQUE IMORTAL – ADEMIR DA GUIA

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ADEMIR DA GUIA-Meio-campista



ademir da guia (1)
Nascimento: 03 de Abril de 1942, no Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Posição: Meia
Clubes: Bangu-BRA (1960-1961) e Palmeiras-BRA (1961-1977).
Principais títulos por clubes:
1 International Soccer League (1960) pelo Bangu.
2 Campeonatos Brasileiro (1972 e 1973), 2 Torneios Roberto Gomes Pedrosa (1967 e 1969), 1 Taça Brasil (1967), 1 Torneio Rio-SP (1965), 3 Troféus Ramón de Carranza (1969, 1974 e 1975) e 5 Campeonatos Paulista (1963, 1966, 1972, 1974 e 1976) pelo Palmeiras.
Principal título individual:
Bola de Prata da Revista Placar: 1972

“Divino”
Não existia uma classe específica para definir aquele craque. Muito menos adjetivos suficientes para descrever sua técnica, sua tranquilidade, sua visão de jogo, seu domínio de bola. Podiam jogar passes violentos que ele ajeitava como se fossem suaves. Uma bola torta ficava redondinha instantaneamente. Um simples toque deixava o companheiro na cara do gol. Ou, se ele estivesse no jeito, um chute violento que ia contra os princípios de sua calma virava um golaço no ângulo. Com tantas qualidades, como descrever em uma só palavra o futebol de Ademir da Guia? Divino. Como marcar para sempre a obra construída em 901 jogos com a camisa da Sociedade Esportiva Palmeiras? Com um busto de bronze no Palestra Itália. Como explicar as míseras 12 partidas pela seleção brasileira em duas décadas? Com um singelo “perdeu, escrete canarinho. As copas de 1966 e 1974 seriam bem diferentes com o Divino em campo…”. Ademir da Guia foi o maior ídolo da história do Palmeiras, um dos maiores craques do futebol mundial e sinônimo de futebol arte nas décadas de 60 e 70 no Brasil. Sob seu comando, o Palmeiras deixou de ser apenas um time de futebol para se transformar em Academia. Os jogadores vestidos em verde não jogavam futebol. Ensinavam. Em tempos de Santos de Pelé, apenas um clube brecou um possível decacampeonato paulista do alvinegro: a Academia do Divino. No começo dos anos 70, com a criação do Campeonato Brasileiro, um clube se tornou o primeiro bicampeão: a Academia do Divino – parte 2. Sim, ele comandou as duas versões da sublime equipe alviverde daqueles tempos. Mesmo com mais de 12 títulos conquistados, gols, partidas estupendas e uma eternidade no coração dos torcedores, quis o destino que Ademir não brilhasse com a camisa verde e amarela do Brasil. Mágoa? Que nada. Azar da seleção e sorte do Palmeiras, que não perdeu seu craque para as longas viagens e convocações para partidas chinfrins. É hora de relembrar.

Divina família
DOMINGOS DA GUIA
Ademir da Guia (cujo nome foi em homenagem ao craque Ademir de Menezes) nasceu no Rio de Janeiro em uma família cujo sobrenome era sinônimo de futebol. Os da Guia criaram um clã que marcou época no futebol brasileiro, principalmente por Domingos da Guia, pai de Ademir e considerado o maior zagueiro brasileiro de todos os tempos, elegante, técnico e que jogava sempre de cabeça erguida. Antes de Ademir ir para o mundo do futebol, o futuro craque nadava de braçadas nas piscinas do Bangu Atlético Clube, o berço dos onde os jogadores da família da Guia, Domingos, Luís Antonio, Ladislau e Médio (estes três últimos tios de Ademir) começaram. Depois de um tempo, passou a jogar bola e quando completou 17 anos foi levado pelo pai para um teste, acredite se quiser, no Corinthians. Antes mesmo de chegar ao Parque São Jorge, uma mudança de caminho levou Ademir para Santos. Na baixada, o loirinho passou no teste e poderia começar nos juvenis de um time que tinha Pelé, Zito, Coutinho… Mas não quis. De volta ao Rio, Ademir e o pai foram sondados pelo Bangu e passaram a trabalhar no clube. O primeiro, como jogador, e o segundo como técnico das equipes de base. Nos primeiros treinos, Ademir foi testado na zaga, por ser filho de quem era, claro. Mas aí foi para o meio de campo e não saiu mais.
Brasil-02

Em 1960, Ademir viajou com a delegação do Bangu até os EUA para disputar a International Soccer League, competição com diversos clubes internacionais realizada em Nova York e que tinha um caráter “mundial” na época. Ao lado de feras como Zózimo, Ubirajara Motta e o técnico Tim, Ademir jogou muito e ajudou o Bangu a conquistar o título após vitórias sobre Sampdoria-ITA (4 a 0), Rapid Wien-AUT (3 a 2), Sporting-POR (5 a 1) e Estrela Vermelha-IUG (2 a 0), além de um empate com o IFK Norrköping-SUE (0 a 0). Na final, a equipe carioca venceu o Kilmarnock-ESC por 2 a 0 e foi campeã. Até hoje, o Bangu considera aquela conquista como um título mundial. Ademir da Guia, com apenas 18 anos, foi eleito o MVP (jogador mais valioso) da competição.
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Mesmo com o destacado desempenho, o jogador parece não ter entusiasmado muito os dirigentes do clube carioca, pois em 1961 aceitaram uma proposta do Palmeiras e o venderam ao time do Palestra Itália. Mal sabiam os diretores alvirrubros que um dos maiores craques do futebol nacional em todos os tempos tinha acabado de deixar para sempre o subúrbio carioca. Como bem profetizara Fleitas Solich, técnico do Flamengo em 1961:
“O preço que vocês pagaram não é o que vale só uma das pernas dele!” – Fleitas Solich, a um dirigente do Palmeiras se referindo à negociação com Ademir.

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Sempre bem amparado pelo pai, Ademir foi então para São Paulo continuar a escrever sua história. E seria lá, com a camisa verde, que sua vida mudaria para sempre.

Começa a transformação
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Quando chegou ao Palmeiras, Ademir já era o “da Guia” e não apenas Ademir. O começo no clube alviverde não foi nada fácil pelo fato de o time possuir vários bons jogadores para o meio de campo, frutos da boa saúde financeira do clube à época, que fazia rios de dinheiro com a venda de jogadores de talento para o exterior (como Altafini, por exemplo). Depois de esquentar o banco diversas vezes, Ademir conseguiu se firmar em 1963, ano em que o Palmeiras conseguiu impedir o tetracampeonato paulista do Santos de Pelé e faturou o torneio estadual com uma certa folga no segundo turno da competição. O caneco veio após uma vitória de 3 a 0 sobre o Noroeste. Comandado por Silvio Pirilo, o time alviverde começaria naquele ano a brilhar no cenário nacional com atuações de gala, jogos espetaculares e a mais pura arte em campo. Com Djalma Santos, Djalma Dias, Julinho Botelho, Ademir da Guia, Vavá e Servílio, a qualidade em campo fazia nascer o apelido de Academia, pois os jogadores ensinavam a jogar futebol. Ademir mostraria com o passar do tempo suas qualidades e virtudes como visão de jogo, cadência, calma, técnica e a falsa lentidão que o acompanharia por toda carreira. De passadas largas, o jogador era avesso às corridas exacerbadas. Preferia ir ao seu ritmo, domando a bola com uma presteza sem igual. Mas Ademir ainda carecia de algo, de alguém para lhe fazer companhia no meio de campo e que lhe desse a liberdade para criar ainda mais e marcar mais gols. E essa pessoa viria já em 1964.

A chegada do gêmeo
Dudu e Ademir: gêmeos do meio de campo do Palmeiras. Pura simbiose.
Dudu e Ademir: gêmeos do meio de campo do Palmeiras. Pura simbiose.


Em 1964, o Palmeiras voltou a fazer dinheiro vendendo mais um craque (Vavá) e utilizou a quantia para trazer, entre outros, um jogador da Ferroviária para reforçar o meio de campo e dar mais pegada e combate: Dudu. Era a peça que faltava para a Academia se consagrar definitivamente e Ademir encontrar seu tão sonhado parceiro. Com Dudu, o Divino poderia armar mais jogadas, ter liberdade para atacar e ficar mais solto no 4-2-4 do alviverde na época. A parceria seria uma das mais longas da história do futebol brasileiro: 13 anos e muitas taças para a coleção. Um completava o outro e um dava a cobertura para o outro. Se o Santos tinha Pelé e Coutinho, o Palmeiras tinha Ademir e Dudu.
A "Academia Brasil" de 1965.
A “Academia Brasil” de 1965.


Depois de uma temporada sem títulos, em 1965 o Palmeiras teve suas primeiras grandes exibições pelo Brasil. A mais importante delas, sem dúvida, foi quando o time alviverde vestiu a camisa amarela do Brasil para um jogo amistoso contra o Uruguai, em 7 de setembro, na festa de inauguração do estádio do Mineirão, em Belo Horizonte (MG). A “Academia Brasil” venceu a Celeste por 3 a 0, e Ademir esteve em campo com toda sua classe e categoria ao lado de Djalma Santos, Dudu, Julinho, Servílio, Germano entre outros. A apoteose foi apenas uma das muitas protagonizadas pela equipe naquele ano. No Torneio Rio-SP, o Palmeiras venceu com sobras massacrando os rivais. O time venceu o Vasco por 4 a 1 no Maracanã, o time reserva do Santos por 7 a 1, o Flamengo por 4 a 1 no Maracanã, o Botafogo por 5 a 3 no Maracanã, o São Paulo por 5 a 0 e o Botafogo por 3 a 0 no Pacaembu. Ademir da Guia foi um virtuose em grande parte desses jogos, dando passes magistrais e marcando gols. Como foi campeão dos dois turnos, o time alviverde conquistou o torneio daquele ano sem necessitar de uma final, com 12 vitórias, três empates e apenas uma derrota em 16 jogos, com 49 gols marcados e 20 sofridos. Graças às atuações de gala no Maracanã, o Palmeiras fez o estádio carioca ganhar o apelido de “Recreio dos Periquitos”, em alusão a mascote do alviverde. Foi nessa temporada que Djalma Santos batizou Ademir da Guia com o apelido que o acompanharia por toda a carreira: Divino.
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Enxurrada de títulos
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Entre 1966 e 1969, Ademir da Guia colecionou taças no Palmeiras. Sempre bem amparado por Dudu, o craque conduziu o Palmeiras ao título estadual de 1966, interrompendo mais uma sequência do Santos de Pelé. O jogo do título foi uma goleada de 5 a 1 pra cima do Comercial, com um gol de Ademir. Em 1967, o Verdão deu show em âmbito nacional. Primeiro veio o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, espécie de Brasileiro da época, com o Palmeiras sendo campeão em cima da dupla Gre-Nal e do Corinthians (que já tinha Rivellino). No segundo semestre, foi a vez da conquista da Taça Brasil, quando o time passou pelo Grêmio na semifinal e encarou o Náutico na final. No primeiro jogo, vitória alviverde por 3 a 1 na Ilha do Retiro. Na volta, derrota inesperada por 2 a 1. Na partida desempate, no Maracanã, César Maluco e Ademir da Guia fizeram os gols da vitória por 2 a 0 e do segundo título nacional em apenas um ano do clube. Vale lembrar que nessa época, mesmo gastando a bola no Palmeiras, Ademir continuou a ser preterido na seleção, desfalcando o selecionado na Copa de 1966, quando o Brasil fracassou e acabou eliminado ainda na primeira fase.
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Em 1968, o Palmeiras disputou a Copa Libertadores da América. Depois de jogos complicados, catimba e muita pressão, o time chegou à final. Mas o adversário seria o temido Estudiantes-ARG de Verón. No primeiro jogo, em La Plata, a equipe argentina apostou na força de sua torcida e de seu conjunto e venceu por 2 a 1, gols de Verón e Eduardo Flores. Na volta, no Pacaembu, o Palmeiras fez 3 a 1 e forçou a terceira partida. Em campo neutro, no estádio Centenário, em Montevidéu (URU), o Estudiantes liquidou os brasileiros com um gol em cada tempo: Ribaudo, aos 13´, e Verón, aos 82´. O desgaste na Libertadores custou ao clube alviverde o título do Campeonato Paulista, que ficou outra vez com o Santos. Com jogadores já envelhecidos, o time começou a entrar em xeque, mas em 1969 voltou a apresentar um bom futebol e levantou mais um Torneio Roberto Gomes Pedrosa, quando Ademir deu show ao marcar dois gols na vitória sobre o Botafogo por 3 a 1 que garantiu o título. Consagrado no Palmeiras, Ademir começaria a despertar o questionamento do público quanto a sua presença na seleção, até então escassa e apenas esporádica. Será que ele teria uma vaguinha na Copa de 1970?
Ademir da Guia aplica uma caneta em Pelé. Coisa de quem é gênio...
Ademir da Guia aplica uma caneta em Pelé. Coisa de quem é gênio…


Vítima do excesso de camisas 10
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Antes do mundial de 1970, no México, Ademir da Guia até que foi convocado por Zagallo para algumas partidas amistosas, mas o craque jamais se firmou e perdeu lugar para Gérson. Em uma equipe recheada de camisas 10 (Rivellino, Gérson, Jairzinho, Pelé e Tostão), Ademir acabou ficando sem espaço por vários motivos. Primeiro, pelo fato de ser considerado “lento”. Segundo, por ter de obrigar a seleção a jogar em sua função e ao seu jeito. Terceiro, porque a Academia do Palmeiras já havia perdido a intensidade e uma debandada custou a reformulação total do time. Ademir e Dudu foram alguns dos poucos que ficaram. Chegaram novas peças como Leão, Luís Pereira e Leivinha, mas eram incógnitas. Será que o craque conseguiria provar que ainda tinha espaço na seleção para a Copa de 1974?

Academia de Futebol – parte 2
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Depois de ver a Copa de 1970 pela TV e perder os títulos paulistas de 1970 e 1971 para o São Paulo, Ademir da Guia conseguiu reconduzir o Palmeiras às glórias já em 1972. Com 30 anos, mas em exuberante forma física graças ao trabalho do preparador Hélio Maffia, Ademir voava em campo com sua técnica e fome por vitórias. Ao lado de uma nova geração de talento, ele conseguiu fazer daquele Palmeiras a segunda versão da Academia. Leão, Luís Pereira, Zeca, Edu Bala, César Maluco, Leivinha e, claro, seu companheiro Dudu, formaram uma equipe tão boa quanto a dos anos 60. O primeiro torneio disputado em 1972 foi o estadual, de turno e returno por pontos corridos. Com equilíbrio e entrosamento, o Palmeiras conquistou o caneco de maneira invicta com 15 vitórias e sete empates em 22 jogos. Naquele torneio, o time já dava mostras do quão difícil seria vazar o goleiro Leão: em 22 jogos o goleiro alviverde levou apenas oito gols! O ataque palmeirense também foi eficiente e marcou 33 vezes, o melhor da competição. Com o caneco estadual na bagagem, o time foi com tudo em busca do Campeonato Brasileiro, criado no ano anterior e que teve como primeiro campeão o Atlético-MG.
Ademir da Guia e Pedro Rocha: estrelas do futebol paulista nos anos 70.
Ademir da Guia e Pedro Rocha: estrelas do futebol paulista nos anos 70.


O Brasileirão foi disputado num complexo sistema de disputa, com três fases e uma partida final, onde um empate favorecia o time de melhor campanha. Na primeira fase, o Palmeiras ficou na primeira colocação no grupo B, com grandes exibições tanto em casa quanto fora, com destaque para as vitórias sobre Fluminense (1 a 0), Atlético-MG (3 a 0) e Grêmio (1 a 0), todas longe de São Paulo. O time perdeu para Corinthians e Santos ambos por 1 a 0, mas isso não abalou os comandados de Brandão, que continuaram firmes em busca do título. Na segunda fase, o time alviverde se classificou depois de vencer América-RJ por 3 a 1 e Coritiba por 3 a 0, e perder para o São Paulo por 2 a 0. Como tinha melhor campanha, a equipe foi para a fase final.
Nas semis, o time colocou o regulamento embaixo do braço e conquistou o título, com empates em 1 a 1 contra o Internacional e 0 a 0 contra o forte Botafogo de Jairzinho. Pela primeira vez, o Palmeiras era campeão do Campeonato Brasileiro, título que se somava às outras conquistas nacionais da equipe na década de 60. A campanha foi digna de campeão: 30 jogos, 16 vitórias, 10 empates e apenas quatro derrotas, com 46 gols marcados e 19 sofridos. Juntando todos os jogos do ano, o Palmeiras conseguia a proeza de levar apenas 44 gols em 80 partidas, graças não só à zaga eficiente, mas principalmente ao sóbrio Leão. Se contarmos apenas jogos do Paulista e Brasileiro, o time levou somente 27 gols em 55 jogos! Uma enormidade, como foi o ano para o alviverde, multicampeão e o time a ser batido dali pra frente. Para coroar uma temporada magnífica, Ademir da Guia recebeu da Revista Placar a Bola de Prata como um dos melhores jogadores do Brasil.

Nova façanha nacional
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Em 1973, o Palmeiras não conseguiu o bicampeonato estadual, mas a hegemonia no Brasil foi consolidada. Em mais um campeonato inchado, com 40 equipes e várias fases de disputa, o Palmeiras sobrou. No primeiro turno, liderança verde com 18 vitórias, sete empates e três derrotas em 28 jogos, com 34 gols marcados e 11 sofridos. Na fase seguinte, nove jogos, cinco vitórias e quatro empates, com 15 gols marcados e só um sofrido.
Sem rivais, o time foi para o quadrangular final em vantagem, mas não deu sopa para o azar. O time derrotou o Cruzeiro de Nelinho, Perfumo, Piazza, Zé Carlos, Palhinha e Dirceu Lopes em pleno Mineirão por 1 a 0, gol de Edu Bala. Na partida seguinte, vitória em casa por 2 a 1 (gols de Ronaldo e Luís Pereira) contra o Internacional de Cláudio, Figueroa, Vacaria, Valdomiro, Falcão e Escurinho. No jogo decisivo, um empate contra o São Paulo de Waldir Peres, Forlán, Chicão, Pedro Rocha e Terto dava o bicampeonato ao Palmeiras. E foi o que aconteceu. A equipe foi absoluta novamente na defesa, não deu espaços ao rival e o 0 a 0 garantiu ao Verdão mais um título nacional. A equipe conseguia uma campanha ainda melhor que na temporada anterior: 25 vitórias, 12 empates e três derrotas em 40 jogos, com 52 gols marcados e 13 sofridos. O Brasil era verde. E a Academia consolidava sua segunda geração, com os toques de bola refinados, a velocidade, a cadência quando necessário e o ferrolho na zaga. Jogar contra o Palmeiras naquela época era um desafio e tanto. Vencê-lo, mais difícil ainda. Marcar um gol? Só se Leão deixasse…

A primeira, única e esquecível Copa
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Em 1974, Ademir da Guia teve, enfim, a chance de disputar sua primeira Copa do Mundo, na Alemanha. Mas, outra vez, o craque do Palmeiras não passou de um mero figurante. O técnico Zagallo deixou o craque no banco durante todo o mundial e viu a seleção ser esmagada pela Holanda de Cruyff. Na disputa pelo terceiro lugar, Ademir não esperava jogar contra a Polônia e seguiu o ritual de sempre: almoçou, repetiu a sobremesa e ficou tranquilo. Só que naquele dia ele ia jogar. Despreparado e cru, o craque não conseguiu jogar seu futebol vistoso, técnico e cerebral de sempre, sendo substituído no segundo tempo por Mirandinha. E o Brasil perdeu para a Polônia de Lato por 1 a 0. Ao deixar o gramado, Ademir dava adeus à seleção brasileira com apenas nove partidas oficiais disputadas e nenhum gol marcado. Um crime contra o maior ídolo da história alviverde, que merecia sorte maior no escrete verde e amarelo. Ademir sempre deixou claro que a seleção não era sua obsessão, mas, claro, ele gostaria de ter tido mais chances de poder dar glórias à nação do mesmo jeito que deu aos torcedores do Palmeiras.

Saboroso Paulista
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Depois da Copa, Ademir da Guia voltou a celebrar uma conquista com o Palmeiras. E foi uma senhora conquista. No Campeonato Paulista, o time decidiu contra o Corinthians de Rivellino o caneco de 1974. A final seria em dois jogos, ambos no Morumbi. Na primeira partida, empate em 1 a 1. A volta, com mando do Corinthians, seria o cenário perfeito para o time alvinegro pôr fim ao jejum de 20 anos sem uma taça: seriam mais de 120 mil corintianos contra apenas 10 mil palmeirenses. O Timão estava em melhor fase e com grandes jogadores como Vaguinho, Zé Maria e o astro Rivellino. Mas quem iria fazer a festa era a minoria alviverde…
O jogo foi emblemático. Depois de um primeiro tempo morno, o segundo foi cheio de histórias. A primeira foi o lance capital que decretou a saída de Rivellino do Corinthians. Após uma dividida com Luís Pereira, o craque corintiano pediu falta e o juiz não deu. Uma foto tirada no exato momento em que o zagueiro palmeirense consola Rivellino causou a ira da torcida alvinegra, bem como da diretoria, que acharam que o meia havia pipocado. Na sequência do lance, a bola sobrou para Ronaldo, o reserva de luxo do Palmeiras, estufar as redes: Corinthians 0x1 Palmeiras. O Morumbi se calou. E os 10 mil palmeirenses enlouqueceram. Visivelmente abalado, o time alvinegro não teve forças para reverter o placar, que se manteve intacto até o apito do árbitro: Palmeiras campeão paulista de 1974. E Corinthians mais um ano na fila…
Além do título estadual, Ademir e o Palmeiras ainda abocanharam taças internacionais, com destaque para os troféus Ramón de Carranza de 1974 e 1975, quando o time encantou os europeus com um futebol vistoso e envolvente. Foi nessas excursões que os clubes da Espanha começaram a assediar as joias alviverdes. Não demorou muito para Luís Pereira e Leivinha serem vendidos ao Atlético de Madrid, bem como uma leva de outros jogadores deixarem o clube. A segunda Academia fechava lentamente suas portas. Mas Ademir ainda teria seu último canto de cisne.

Com Dudu no banco, a última taça
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Em 1976, Ademir Da Guia perdeu seu fiel companheiro Dudu em campo, mas continuou com a parceria no clube. Dudu virou técnico do time alviverde no segundo turno do Campeonato Paulista e comandou um elenco já bem enfraquecido com as saídas dos pilares da segunda Academia, mas ainda sim competitivo e com Ademir da Guia sempre em forma, mesmo aos 34 anos. O Palmeiras foi campeão com o Divino sendo eleito o melhor jogador do torneio. Aquela, porém, seria a última conquista do craque com a camisa do clube. Além disso, o Palmeiras viveria um jejum histórico de 16 anos que só terminaria em 1993.

A misteriosa crise e o fim
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Em 1975, Ademir Da Guia sofreu uma estranha crise respiratória em uma partida do Palmeiras na cidade de Manaus. Em 1977, essa mesma crise voltou e começou a deixar o craque apreensivo e incapaz de jogar como antes. Até em treinos ela teimava em aparecer. Ademir fez cirurgias no nariz e nem assim ela se dissipou. Foi então que no mesmo ano o craque decidiu se despedir dos gramados, sem partida de despedida ou homenagem, em uma derrota para o Corinthians pelo Campeonato Paulista, que seria vencido, curiosamente, pelo alvinegro. O Divino ficou seis anos sem jogar e só voltou em 1984, quando os amigos organizaram uma partida de despedida para o craque. Inexplicavelmente, o problema respiratório que acometera Ademir naquele final de anos 70 sumiu de uma hora para outra. Depois de pendurar as chuteiras, Ademir Da Guia seguiu no mundo futebolístico ensinando jovens a jogar futebol, além de ingressar na carreira política e ser eleito vereador na cidade de São Paulo, em 2003.

Divino eterno
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Em 1986, o Palmeiras imortalizou de vez a carreira e obra de Ademir da Guia com a construção de um busto de bronze em homenagem ao craque no Palestra Itália. Ficava eternizado para sempre o maior jogador da história do Palmeiras, símbolo de duas gerações vitoriosas e um virtuose com a bola nos pés. Ademir era de poucas palavras, mas dono de um vasto repertório em campo. Amaciava a bola com sutileza, via companheiros livres há metros, dava lançamentos impecáveis, marcava gols com uma falsa lentidão inexplicável. Seu futebol não tinha meias palavras. Era completo, direto, artístico. Ademir foi o próprio Palmeiras em campo, a própria alma alviverde e um craque místico que conseguia fazer tremer até mesmo o poderoso Santos de Pelé. Ademir da Guia foi Divino, como seu pai, o Divino Mestre. Teve nome, sobrenome e aura de craque, e conseguiu ser imortal por duas décadas em campo e por toda a eternidade no futebol.

Números de destaque:
É o jogador que mais vestiu a camisa do Palmeiras em todos os tempos: 901 jogos.
É o terceiro maior artilheiro do Palmeiras em todos os tempos: 153 gols.
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