segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Sp. Braga-Benfica: o novo Clássico que Jesus apimentou

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Oito épocas depois, bracarenses e encarnados medem forças sem Jorge Jesus pelo meio. Um duelo que cresceu, dentro e fora das quatro linhas, até ao estatuto de jogo grande


Se, hoje, é banal e bem aceite dizer que os embates entre Sp. Braga e Benfica são sempre dos mais aguardados do campeonato, há dez anos, por exemplo, não seria bem assim. Esta segunda-feira escreve-se mais um capítulo de um «novo Clássico» do futebol português, desta feita com um condimento diferente: não há Jorge Jesus. 

Desde 2007/08 que o, agora, treinador do Sporting tinha papel principal nos duelos. Não é, de todo, descabido sublinhar a importância do técnico no apimentar da rivalidade. Ele que começou em Braga, onde esteve apenas uma temporada, e de lá seguiu para a Luz, para seis anos de altos e baixos, muitos títulos e uma acesa disputa com a ex-equipa quase em todos os encontros. 

Aliás, não há muito tempo, a cidade de Braga era conhecida pela imensa legião de adeptos do Benfica e, tal como acontece um pouco por todo o país, também o estádio bracarense se deixou, muitos anos, pintar com o vermelho do rival. Cenário que mudou drasticamente com o crescimento da equipa local. 

O ponto de partida para esta análise, contudo, é a temporada 2008/09. O clima começa a esquentar a sério entre os dois emblemas, por causa de um jogo na Luz que o Benfica vence com um golo irregular de David Luiz. Jorge Jesus treinava o Sp. Braga e protagonizou uma conferência de imprensa para a história: «Lutar como? Só se for na Playstation.» 



Foi o primeiro capítulo. Na Luz. Em Braga, contudo, centrar-se-iam as principais polémicas, durante as seis épocas de Jesus no emblema da capital (ver lista abaixo)

Márcio Mossoró, que joga atualmente no Basaksehir, da Turquia, foi protagonista de muitas batalhas. Afastado de Portugal desde 2013, o antigo médio bracarense, não tem dúvidas em assumir que, para o plantel, era «um jogo diferente». 

«Encarávamos como se fosse um dérbi, como um Clássico. Sabíamos que era um jogo difícil e tínhamos de dar tudo. Conseguíamos surpreender na qualidade, sim, mas também na raça. Como se costuma dizer, vestíamos o fato-macaco. Íamos preparados para o pau, para a briga…», ilustra, em conversa com o Maisfutebol

O brasileiro chegou a Braga no mesmo ano de Jorge Jesus e admite que o técnico desempenhou papel fundamental no crescimento desta rivalidade. «Ele influenciava bastante», atira entre risos. 

«Acho que ele conseguia motivar as duas equipas. Arranjava sempre algumas provocações antes dos jogos que nos motivavam. É um treinador especial, dos melhores», elogia. 

«O Benfica dava-me uma motivação especial» 

Foram muitos os jogos com o Benfica em que Mossoró participou. Guarda memórias de alguns especiais, como«uma reviravolta de 2-1» em que fez o segundo golo. Ou a meia-final da Liga Europa. «O Benfica chegou a Braga completamente convencido que ia passar fácil», acusa. 

E mais: «Também daquele célebre jogo do túnel que ajudou a que perdêssemos um campeonato que merecíamos ter ganho. Podíamos ter feito história. Ajudou-me a perceber como funcionam alguns poderes em Portugal.» 

Foi em 2009/10. Na altura, à saída para o intervalo, gerou-se uma confusão no túnel de acesso aos balneários. O benfiquista Cardozo e o bracarense André Leone foram expulsos, mas os castigos maiores foram para Vandinho (três meses de suspensão), Mossoró (três jogos) e Ney Santos (dois jogos). Na altura o Sp. Braga de Domingos Paciência ganhou 2-0, mas, no final, apesar da boa réplica, o título foi para a Luz. 

«Estive em muitos jogos com o Benfica. Muitos bons jogos. Acontecia também muitas coisas extra campo. Aprendi que faz parte. Acho que hoje o Benfica-Braga já é diferente. Há um novo Braga, se calhar uma equipa mais virada para a juventude. E o Benfica também não é o do Jesus. Já não se vê tanto o peito», diz Mossoró. 

O médio assume ainda que, a título individual, era diferente jogar conta o Benfica. «A mim dava-me uma motivação especial, confesso. Foi muita coisa. Houve aquele jogo em que parti uma perna que me marcou muito. E também havia alguns jogadores que já marcávamos e gostávamos de trocar umas bocas», comenta, em tom de brincadeira. 

«Jesus motivava mais do que o treinador do FC Porto» 

Há um ponto, contudo, em que Mossoró não admite que se toque: o empenho da equipa, no geral, contra todos os adversários. Por exemplo, uma crítica habitual é de que os jogos com FC Porto e Sporting não são tão disputados, algo que, inclusive, já foi dito por dirigentes encarnados. 

Ora, Mossoró lembra-se bem dessas questões e coloca ordem: «Isso era algo que me irritava. Colocava em causa o nosso caráter.» 

«Por exemplo, já tivemos jogos de arrepiar contra o FC Porto. Lembro-me de um 2-1, de virada, para a Taça de Portugal. Também a final da Taça da Liga, que vencemos, fazendo um jogo incrível. Fizemos um jogo fantástico na final da Liga Europa, merecíamos ter ganho», enumera. 

O brasileiro diz que quando dizem que não jogavam o mesmo «estão a colocar em causa» o profissionalismo de todos. «É verdade que o Jesus motivava mais do que o treinador do FC Porto, mas disso não temos culpa», brinca. 

Por fim, sobre o jogo desta segunda, o primeiro sem Jesus em muitos anos, Mossoró vê a sua ex-equipa num momento mais positivo: «Parece-me que o Benfica não está tão forte, mas vai lutar pelo título, claro.» 

«O Sp. Braga tem vindo a mudar de treinador todos os anos, este ano mudou também o esquema para um 4-4-2 e tem tido sucesso. O Sp. Braga está num patamar muito grande. Tem vindo a amadurecer, a crescer novamente e, acredito que em dois, três anos possa voltar a lutar pelo título. Acredito que um dia o Sp. Braga pode ser campeão em Portugal», remata. 

TODOS OS SP. BRAGA-BENFICA COM JORGE JESUS: 

2008/09, Liga: Quique atropela Jesus no adeus, sem playstation 

O início de tudo, com Jorge Jesus do lado bracarense da barricada. Na primeira volta, na Luz, o Benfica vence com um golo de David Luiz em fora-de-jogo e o técnico bracarense solta uma frase que fica para a história: «Lutar pelo título no Sp. Braga, só na Playstation». Em Braga, na última jornada do campeonato, e já com intensos rumores a ligar ao técnico ao Benfica, a equipa de Quique Flores atropela. No início do segundo tempo já vencia por 3-0. Havia ainda que garantir o terceiro lugar, face à pressão do Nacional, e Quique conseguiu-o. Pouco depois saía para entrar o rival a quem ganhara. 

2009/10, Liga: primeiro atrito a sério foi no túnel 

Na primeira deslocação a Braga como treinador do Benfica, Jorge Jesus perdeu e o jogo fez faísca. Ao intervalo, já com os encarnados em desvantagem, uma confusão no túnel de acesso aos balneários resulta na expulsão de Cardozo e André Leone. Um jogador de cada lado. Contudo, algum tempo depois, após um inquérito levado a cabo, Vandinho recebe três meses de castigo, Mossoró três jogos e Ney Santos, que entretanto fora emprestado ao V. Setúbal, dois. O Sp. Braga disputou o título com o Benfica até à última jornada, mas foi na Luz que se festejou. 

2010/11, Liga: Javi-Alan, agressão ou não? 

O Benfica jogou em Braga já muito distante do líder FC Porto, que viria a ser campeão. Até começa a vencer, mas, perto do intervalo, um lance aparentemente inofensivo, junto à linha lateral e ao banco bracarense, faz rebentar a confusão. Javi Garcia alivia uma bola mas atinge Alan com o braço. Propositado ou não? Carlos Xistra considerou que sim e expulsou o espanhol. No livre, Hugo Viana empatou (com ajuda de Roberto). Na segunda parte, Mossoró fez o 2-1. 



2010/11, Liga Europa: Dublin é para o Arsenal do Minho 

O Benfica era favorito na meia-final da Liga Europa com o Sp. Braga, a surpresa da competição. Mas a equipa de Domingos Paciência saiu viva da Luz (perdeu 2-1), e adiantou-se relativamente cedo no jogo de Braga, com um cabeceamento certeiro de Custódio. Depois foi aguentar até ao final e festejar a inédita presença na final. Para a história ficou a imagem de Fábio Coentrão desperado após o apito final. 

2011/12, Liga: o apagão e o racismo 

Três vezes a luz foi abaixo, três vezes voltou. O Benfica não teve pejo em suspeitar dos apagões, considerando-os estratégicos. Artur Moraes, em ano de estreia na Luz depois de jogar em Braga, soltou mesmo um «sempre que o Benfica joga aqui acontece algo estranho». O jogo terminou empatado a um, mas prolongou-se depois quando Alan acusou Javi Garcia (velhos conhecidos…) de racismo. «Chamou-me preto», acusou. Até Eusébio comentou o tema chamando «estúpido» ao brasileiro: «Ele é preto. Devia ficar ofendido é se o chamassem de branco.» 

2012/13, Liga: a primeira vitória de Jesus em Braga 

Antes do jogo, Jorge Jesus deu o mote: «Alguma vez irei ganhar em Braga». E o triunfo lá chegou. O rival era treinado por José Peseiro mas cedo se viu em desvantagem (golo de Salvio aos 5 minutos), reforçada por Lima pouco depois da meia hora. O Benfica resolveu cedo, descansou, o rival ainda reduziu, perto do fim, mas não deu para mais. Do ponto de vista dos casos, apesar da expulsão de Haas, foi o jogo mais tranquilo em vários anos. 

2012/13, Taça da Liga: a vingança de Quim 

Dispensado por Jorge Jesus num programa televisivo, Quim encontrou abrigo em Braga e teve, na noite de 27 de fevereiro de 2013 o seu grito de revolta. Parou dois penáltis e colocou a sua equipa na final, após um nulo sensaborão. A forma efusiva como festejou, no final, foi sintomática. Após o jogo, mais um caso lamentável: o autocarro do Benfica foi apedrejado à saída de Braga. 

2013/14, Liga: Benfica vence a caminho do título 

Outra vitória do Benfica, outro jogo tranquilo em Braga. A equipa de Jesus estava perto do título, o Sp. Braga de Jorge Paixão pedia o final da época para um reset. Valeu um golo de Lima, num jogo em que os bracarenses quase nem assustaram. 

2014/15, Liga: todos reclamam, mas o Sp. Braga ganha 

Marco Ferreira foi o inesperado protagonista do embate que sorriu ao Sp. Braga (2-1, com reviravolta). Sérgio Conceição queixa-se de dois penátis por marcar, Jorge Jesus queria Santos expulso depois de atingir Talisca com a chuteira na cara, numa imagem arrepiante. Danilo seria expulso em cima do apito final. Marco Ferreira recebeu nota negativa nesse jogo e foi surpreendentemente despromivido no final da época, abandonando a arbitragem.

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